Por Isabella Ocampo
Como você pode apoiar a mídia na América Latina? Como promover o desenvolvimento tecnológico, a inovação e a experimentação nos meios de comunicação?
Estas são algumas das questões que o Fundo Internacional para Mídia de Interesse Público (IFPIM, na sigla em inglês) tenta responder.
Durante o 18º Colóquio Ibero-Americano de Jornalismo Digital em 29 de março, Vanina Berghella, diretora regional do IFPIM para a América Latina e o Caribe, apresentou as lições aprendidas e os resultados dos dois anos de trabalho do fundo desde sua inauguração na região em 2023.
O IFPIM é um fundo multilateral global que busca apoiar os meios de comunicação de interesse público, definidos por Berghella como aqueles meios que existem para informar o público sobre questões relevantes, fornecer informações confiáveis, independentes e transparentes e estar comprometidos com a busca pela verdade.
Berghella comentou que em 2023 o fundo distribuiu mais de US$7 milhões em sete países, incluindo Costa Rica, Colômbia, Equador, Bolívia, Argentina, Paraguai e Brasil.
"O trabalho que estamos fazendo não é apenas apoiar diretamente um meio de comunicação, mas apoiar iniciativas que pensem em soluções para mudanças sistêmicas", disse Berghella.
O trabalho do fundo é único e significativo na América Latina, pois, segundo Berghella, oferece apoio diversificado a uma infinidade de organizações de mídia, desde plataformas digitais até mídias tradicionais.
"Não se trata apenas de fornecer financiamento, trata-se de garantir que meios de comunicação possam ser sustentados a longo prazo", afirmou ela.
O fundo não se limita a cobrir apenas os custos do projeto, mas também algumas despesas organizacionais, tais como salários, aluguéis, apoio jurídico, estratégias e protocolos de segurança, bem como iniciativas de inclusão e diversidade.
Segundo Berghella, a missão do IFPIM está fortemente conectada à necessidade de criar sustentabilidade nos meios de comunicação globais e ao fato de o financiamento do governo e de entidades privadas para os veículos ser muito baixo.
Um foco principal do fundo é apoiar a resiliência e a inovação dos meios de comunicação. O fundo também trabalha para provocar mudanças sistêmicas.
"Estamos explorando mecanismos locais de financiamento filantrópico em países como Brasil e Colômbia", disse Berghella. Da mesma forma, enfatizou a necessidade de mudar a narrativa em relação à filantropia nos países latino-americanos.
"Temos que começar a tirar da cabeça a frase de que não existe filantropia na América Latina", comentou.
Berghella destacou a importância de mobilizar a filantropia nos países latino-americanos como uma forma essencial de apoiar o jornalismo de interesse público.
"É absolutamente fundamental", disse Berghella, "É responsabilidade de cada um de nós sentar e conversar cara a cara com os proprietários de empresas e dizer que é preciso apoiar o jornalismo de interesse público".
Como método de mobilização de apoio, Berghella disse que o fundo procura criar mecanismos que possam "permitir a transparência e a governança independente dos veículos", para que os empresários possam confiar no financiamento dos meios de comunicação.
Ela disse que a organização está particularmente orgulhosa do espírito inovador dos meios de comunicação latino-americanos, observando que, apesar dos contextos desafiadores, estes veículos estão criando desenvolvimentos tecnológicos inovadores e experimentando novos formatos.
Através de seu trabalho, Berghella explicou que o fundo prioriza a compreensão dos contextos locais através de conversas contínuas com associações de jornalistas. Seu apoio vai desde ajudar a mídia hiperlocal a sobreviver até apoiar organizações nacionais no desenvolvimento de tecnologia e estratégias de envolvimento do público.
Finalmente, Berghella mencionou que, apesar dos vários problemas que os meios de comunicação na América Latina enfrentam, como a sustentabilidade econômica, a perda de confiança ou as limitações estruturais, ela assegura que hoje, em comparação com outras regiões, os veículos latino-americanos estão entre os mais inovadores, expandindo-se na área do desenvolvimento tecnológico e da inteligência artificial.
"Isso é muito importante nos processos internos das organizações para melhorar a eficiência e a dinâmica de suas redações", disse Berghella.