A aproximação com a sociedade, a união de forças em um jornalismo colaborativo e o uso eficiente da tecnologia são elementos capazes de conter o avanço da desinformação. Essas foram algumas das conclusões na mesa “Como o jornalismo tem reagido a ondas de desinformação”, do webinar “Jornalismo em tempos de polarização e desinformação na América Latina”, realizado pelo Centro Knight de Jornalismo nas Américas e pelo LLILAS Benson Coleções e Estudos Latino-Americanos da Universidade do Texas em Austin.
O debate contou com as participações da subdiretora editorial do grupo de mídia mexicano Editorial Animal, Tania Montalvo, da diretora executiva e cofundadora da agência brasileira de monitoramento de informações falsas Aos Fatos, Tai Nalon, e da diretora executiva e jornalística da agência argentina de fact-checking Chequeado, Laura Zommer. Elas também destacaram as dificuldades da luta contra a desinformação, incluindo obstáculos impostos pelos governos federais. A professora Summer Harlow, da Universidade de Houston, moderou o painel.
“O que vivemos no Brasil hoje, em 2021, é uma extrapolação do que se iniciou nas eleições presidenciais de 2018,” disse Nalon “Desde então, houve uma institucionalização da desinformação como política pública do Estado, desde engajamento de influenciadores por informação falsa até mobilizações de bastidores que articulam campanhas de ódio nas redes sociais. E 2020, com a pandemia, foi a virada para a radicalização da desinformação do governo federal”.
A diretora executiva da Aos Fatos se mostrou pessimista para o combate à desinformação nas eleições presidenciais de 2022, que serão novamente polarizadas. A saída, segundo Nalon, passa por uma maior colaboração entre os agentes do jornalismo.
“Se o combate não for coordenado, juntando jornalistas, veículos e plataformas, dentro de regras bem estabelecidas e azeitadas, é um processo que tem problemas.”
Além do maior vínculo entre os profissionais da imprensa, os jornalistas têm a obrigação de estabelecer um diálogo e construir uma ponte com os leitores e cidadãos, ressaltou Montalvo. Para a mexicana, é necessário focar em conteúdos esclarecedores de temas importantes para a sociedade civil, que é vítima da polarização em diversos segmentos.
“As pessoas estão distantes do trabalho da imprensa, e acabam se envolvendo em ondas de desinformação sem consultar fontes verificadas. Muitas vezes, a imprensa está vinculada aos poderosos e não aos cidadãos. Atuar em aliança e colaboração com a sociedade civil permite que, juntos, possamos lutar contra essa onda de polarização e desinformação”, afirmou Montalvo.
Zommer acrescenta que é fundamental incorporar a tecnologia ao processo jornalístico, para que ele se dê de forma mais rápida e sem perder a qualidade. A diretora executiva do Chequeado cita o exemplo do “Chequeabot”, mecanismo de inteligência artificial que ajuda a ouvir discursos de autoridades, acompanhar publicações para saber os assuntos em evidência e identificar o que é checável, o que é viral e as mentiras que podem causar danos.
“Não vamos acabar com a desinformação, ela chegou para ficar. O melhor que podemos fazer é aprender novas ferramentas para lidar com esse fenômeno que vai apenas se sofisticar e impor novos desafios,” explicou Zommer. “Os desinformadores, além das emoções e das narrativas, usam a tecnologia. Nós, checadores, temos que fazer o mesmo”.
O webinar “Jornalismo em tempos de polarização e desinformação na América Latina” contou ainda com as mesas “Polarização: os desafios dos jornalistas que são convertidos em alvos em sociedades polarizadas” e “Democracia e liberdade de imprensa: O papel da imprensa na defesa da democracia e da liberdade de expressão”. Os vídeos do webinar estão disponíveis em Espanhol e Português.