Um jornalista foi alvo de campanhas difamatórias. Outro corria o risco de ser preso. E a redação de um terceiro foi invadida e fechada pelas autoridades, duas vezes.
A repressão os obrigou a fugir de seus países, mas mesmo no exílio, esses três jornalistas permanecem comprometidos em relatar o que acontece em suas terras. Eles compartilharam suas histórias com uma plateia online de quase 200 pessoas em um painel realizado em 18 de novembro pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.
"Vozes no Exílio: Jornalismo, Resistência e Resiliência na América Latina" contou com a participação de Luz Mely Reyes, cofundadora do Efecto Cocuyo, da Venezuela; César Castro Fagoaga, cofundador da Revista Factum, de El Salvador, e Carlos Fernando Chamorro, fundador do Confidencial, da Nicarágua.
"Uma coisa é uma emergência, quando você precisa deixar seu país para se proteger, proteger a si mesmo ou a vários grupos de jornalistas", disse Chamorro. "Outra coisa é o exílio permanente. É uma condição permanente pela qual temos passado nos últimos quatro anos, desde 2021. E não sou só eu, como diretor do Confidencial, mas toda a nossa redação, todos."
Ele acrescentou que já não existem veículos de comunicação independentes operando na Nicarágua, com dezenas de jornalistas se exilando para evitar a prisão.
"Quando todas as liberdades são eliminadas, quando não há liberdade de reunião, liberdade de mobilização, liberdade eleitoral, liberdade religiosa, a última reserva de liberdade é o jornalismo no exílio", disse Chamorro. "É isso que nos mantém trabalhando, todos os dias no exílio."
Fagoaga sabia há anos que o exílio era uma possibilidade devido ao seu trabalho em El Salvador, e disse que chegou a avisar sua família.
"Mas ainda era uma realidade muito difícil de acreditar, muito difícil de encarar. Sabíamos que o momento chegaria, mas não sabíamos exatamente quando", disse ele.
Em maio de 2025, o governo começou a prender pessoas em massa. Chegou a hora de Fagoaga partir. Cerca de 53 jornalistas de El Salvador foram forçados ao exílio desde então, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras.
"Minha decisão de ir para o exílio foi um ato doloroso, mas necessário de sobrevivência. Foi uma manobra estratégica para proteger a mim e à minha família, e para garantir que a missão da Factum de relatar a verdade pudesse continuar de fora", disse ele.
Luz Mely Reyes refletiu sobre o momento em que todos os jornalistas devem decidir se e como continuar quando governos repressivos tentam sufocar a imprensa independente.
"No meu caso, passei a vida inteira, toda a minha vida, fazendo jornalismo", disse Reyes. "Sempre digo que tenho a sorte de ter crescido em uma democracia. Isso é diferente de outros jovens, de outras gerações, que não puderam ver como era a democracia. Então, também tenho uma responsabilidade com esta geração que está chegando, porque podemos aprender uns com os outros."
Fagoaga destacou dois objetivos para fazer jornalismo no exílio.
O primeiro é servir como um registro histórico diante de um regime autoritário que tenta controlar a narrativa.
"Para mim, nosso trabalho deve se concentrar em documentar o momento exato que estamos vivendo agora", disse ele. "Isso é muito importante para as futuras gerações salvadorenhas e para aqueles que estão fora de El Salvador, para entender como o país perdeu sua democracia e sucumbiu a uma nova ditadura."
O segundo objetivo, disse ele, é servir de alerta para outros países.
"Nossa experiência é clara e dolorosa, não apenas a de El Salvador. A experiência da Nicarágua, da Venezuela, de Cuba", disse ele. "É um lembrete doloroso para os países que estão sendo tentados pela ideia de resolver os problemas de uma nação por meio do populismo e do autoritarismo. É fácil acreditar que entregar poder absoluto a uma pessoa seja a maneira mais fácil de consertar as coisas, mas nossa história, a história do mundo, prova que isso é impossível."
Olhando para o futuro, Reyes, que se descreve como a "otimista" do grupo, disse que recorreu à comunidade para obter apoio durante a vida e o trabalho no exílio.
"Continuarei fazendo meu trabalho, mesmo que a situação se complique, e sei disso no meu coração, e preciso dizer de coração e alma, que nada dura para sempre", disse ela.
Fagoaga disse que vê esperança nos jornalistas que continuam a trabalhar no exílio e nos jovens, homens e mulheres, que estão ingressando na profissão e em seu compromisso com a sociedade. E, por fim, ele também sabe que "nenhuma ditadura é eterna".
Chamorro disse que a esperança vem na forma de conexão com outros nicaraguenses que vivem no país e no exterior, e na certeza de que haverá mudanças.
"Não vamos provocar essa mudança. Quer dizer, não tenho essa ambição ingênua, essa ideia de que seremos os promotores da mudança, mas enquanto estivermos aqui, enquanto estivermos contando a história, enquanto estivermos criticando, acho que estamos construindo essa liberdade de consciência, de resistência, esse princípio de mudança, para aqueles que têm que tornar a mudança possível."
Esta matéria foi traduzida com o auxílio de inteligência artificial e revisada por Marta Szpacenkopf.